sexta-feira, abril 24, 2009

Canções de Abril (2)

Hoje à noite, precisamente há 35 anos, uma canção funcionou como a primeira senha para os militares que, por todo o país, se preparavam para lançar aquela que viria a ser a Revolução de 25 de Abril.

Foi João Paulo Dinis, uma voz agora histórica da rádio, que a Comunidade portuguesa em Paris pôde ouvir durante algum tempo na Rádio Alfa, quem sugeriu e colocou "no ar" o som de Paulo de Carvalho, cantando "E depois do adeus", a canção que, pouco tempo antes, havia sido escolhida para representar Portugal no festival da Eurovisão.

Ouça-a aqui.

8 comentários:

Paulo M. A. Martins disse...

Caríssimo Embaixador,

Curiosamente, todos os dias, no final da tarde, eu corria para a tabacaria para ler o que dizia o "France Soire".

Como deve estar recordado, o jornal saía sempre com a data do dia seguinte, julgo que hoje ainda acontece.

E, nesse célebre dia 24 de Abril já se podia antever, por entre as linhas, que nos estávamos a aproximar, de forma galopante, do dia "D".

Saí do Banco por volta da meia-noite e fui jantar com um colega à Cervejaria Portugália, ao Chile, passe a publicidade.

Passava das três da manhã, estávamos à porta da Pastelaria Suiça, no Rossio, passe a publicidade, com os carros a passarem em alta velocidade, que despertavam a minha atenção e curiosidade, quando eu lhe disse:

- Já te passou pela cabeça que a esta hora pode estar em preparação ou em curso um golpe de Estado?

- Tu és maluco ou já estás bêbado! Isso já deve ser resultado do marisco e da cerveja. Respondeu-me. E continuámos a nossa conversa... Até que nos despedimos e zarpámos cada um para sua casa.

Às quatro da manhã, recordo-me que, na Estação do Rossio, apanhei o comboio que me haveria de levar até à Amadora, onde residia.

Cheguei a casa, cerca das 5 horas. Antes de me deitar, fui ainda tomar um douche e comer alguma coisa, para, depois, sintonizar o rádio, no Rádio Clube Português, para ouvir o noticiário.

E, de imediato, apareceu o Comunicado do Movimento das Forças Armadas. Entretanto, o telefone toca. Era o meu colega a perguntar-me se eu era bruxo... E eu respondi-lhe que estava bêbado.

Sete horas da manhã, depois do Comunicado do Movimento das das Forças Armadas, dado que tinha o carro na revisão, telefonei para casa dos meus pais, em Lisboa, para nos virem buscar de táxi, a mim, à minha mulher e ao meu filho...

Ele, meio estrambulhado, respondeu-me, quase me insultando, que deveria estar bêbado... pelo que eu o convidei a ouvir a rádio. E desligámos.

Passados uns minutos, meio convencido, pois ainda não queria acreditar, lá se resolveu a pegar um táxi na Praça do Príncipe Real e veio até à Amadora.

Já no caminho para Lisboa já eram visíveis alguns carros de combate "Chaimites" a circularem, nomeadamente do Jardim Patriarcal em direcção à Rua Dom Pedro V.

Àquela hora, a revolução estava na rua!

Àquela hora da manhã, dei comigo, com o meu pai, a minha mulher e o meu filho, estupefactos, como se tivéssemos chegado da província, pela primeira vez, a saudar os valentes e garbosos militares de Abril, que correspondiam aos nossos acenos!

Era o começar de um dia diferente, enquanto a informação, a música e as canções de intervenção ecoavam nos rádios e as pessoas se começavam a comprimir nalguns pontos da cidade de Lisboa!

Trinta e cinco anos depois, entretanto, já passaram, era eu, então, um jovem de 27 anos.



"E depois do Adeus", por Paulo de Carvalho, "Grândola Vila Morena" por Zeca Afonso, Zé Mário Branco, Sérgio Godinho e tantos outros que aguardavam, com algum pó, nas prateleiras para saltarem para a luz do dia!

E, Senhor Embaixador, desculpe-me a indiscrição: - Por onde andava no 25 de Abril?...

A 27 de Abril, ainda estou recordado, fui chamado a uma reunião no Partido Socialista, na Av Duque D'Ávila, com o Tito de Morais, e a 29 de Abril, abria as portas da primeira sede do Partido Socialista, na Amadora, com o Dr. Andrade Neves e outros Camaradas de então!

Como recordar é viver!

Confesso que acabei de rever alguns importantes passos da minha vida, que hoje, se necessário, voltaria a repetir!

Se fosse hoje, como seria?

Voltaria à luta, mas, agora, com importantes conhecimentos adquiridos e acumulados!

Vou quedar-me por aqui e ficar atento ao que alguns dos nossos ilustres comentadores, nos trarão para contar!

Depois de ao longo de alguns anos nos cruzarmos diariamente nos estúdios da Rádio, é curioso, esta já é a segunda vez que me cruzo, aqui, no seu blogue, com o meu grande amigo, quase irmão, João Paulo Diniz, que agora se encontra algures em Portugal, creio que na cidade de Lisboa!

E urge questionar: - Quando, aonde e como irá ser o nosso terceiro encontro?

Ou, por acaso, será este blogue um ponto de encontro?...

A ver vamos!


Paulo M. A. Martins
Fortaleza (CE) - Brasil

Ana Catarina disse...

Caríssimo Embaixador,
Como passo todos os dias pelo seu blog não queria passar mais um sem deixar o meu testemunho e dar-lhe os parabéns.
É sempre com prazer que por ele todos os dias passo e por vezes me fico.
Saudades da sua passagem por Brasília.
Abraços,
Ana Catarina

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Paulo Martins
Se tivesse lido o post anterior saberia por onde eu "andava" no 25 de Abril

José Leandro disse...

Meu Caro Embaixador, permita-me mais 2 recordações com 35 anos. Manhã de 25 de Abril de 1974, em Santarém. Ligar o rádio, e ficar a saber que tudo era jà diferente;27 ou 28/4 o regresso dos militares da EPC com Salgueiro Maia a Santarém. Nunca assisti a coisa igual. Como escreveu Jorge de Sena, «Qual é a cor da Liberdade? Verde, Verde e vermelho.» Saudações do José Leandro

Paulo M. A. Martins disse...

Caríssimo Embaixador,

As minhas desculpas pelo imperdoável lapso.

Na realidade, verdade seja dita, só li o post seguinte depois de ter feito o meu comentário.

Inclusive, só depois é que me recordei que já me havia dito, aqui em Fortaleza (CE), ter sido um dos Homens de Abril.

Me perdoe pelos lapsos. Acontece...

Fraterno abraço.

Paulo M. A. Martins
Fortaleza (CE) - Brasil

Anónimo disse...

Recordar é sobretudo ganhar força para avançar.

Na manhã, o7h na baixa, com amigos não distraídos.

Imperdível,o sonho e alguma realidade.

Helena Sacadura Cabral disse...

Pois a 16 de Março, nas Caldads da Raínha, havia um primeiro indício do que viria a suceder depois. Estava, à época, no Banco de Portugal e lembro-me bem do que então, nós técnicos, achámos que, a breve trecho, iria passar-se. Não nos enganámos!

Anónimo disse...

Senhor Embaixador

Todos este seus textos, inclusive musicados, sobre o 25 de Abril sao uma belissima e magnifica homenagem a essa grande data da HISTORIA DO NOSSO PAIS!!!!!!!!!
um muitissimo OBRIGADO

Luis Sa

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