sexta-feira, outubro 09, 2009

Abstenção nas Comunidades

O Portugal Digital, uma interessante plataforma informática luso-brasileira, muito atenta às questões económicas e sociais, dá hoje conta da subida da abstenção entre os votantes, no Brasil, nas recentes eleições legislativas.

Nos últimos anos, correspondendo a um imperativo cívico mas, igualmente, a apelos públicos de várias origens, os consulados portugueses estimulam os cidadãos nacionais, no momento em que fazem a sua inscrição ou praticam actos consulares, a promoverem simultaneamente o seu registo no recenseamento eleitoral.

Os números do recenseamento, se bem que em dimensões geograficamente diferenciadas, mostram bem o êxito desse esforço. Porém, há um outro "lado" desta realidade: muitos desses cidadãos, não obstante terem acedido ao convite para se recensearem, mantêm-se, na prática, completamente alheios à realidade política em Portugal, pelo que, chegado que seja o momento das eleições, ficam alheios a elas e não votam.

Esta é uma importante razão que não pode ser esquecida, ao fazer-se a leitura deste aumento da abstenção. E é também um alerta para a necessidade das forças políticas portuguesas não se lembrarem dos cidadãos nos estrangeiros apenas na ocasião das eleições, importando manter com eles um continuado esforço de informação ao longo do tempo.

9 comentários:

Anónimo disse...

Tendo em vista o número de abstenções (este ano foi particularmente elevado) e dado ser uma situação recorrente de cada vez que se depara um processo eleitoral, talvez fosse tempo de se repensar, na AR, o número de deputados a atribuir aos emigrantes. Se calhar, 2 seriam suficientes: um pela Europa, outro pelo resto do Mundo.
Albano

José Barros disse...

A Agencia Lusa informa que a abstenção na emigração atingiu 84,75%! Mas os 15,25% que votaram foram calculados sobre o número de inscritos e esta leitura apresenta um número exageradamente elevado! Claro que o número potencial de votantes é muito superior ao de inscritos o que ameniza ainda mais a percentagem dos votantes.
Ouvi dizer que o voto electrónico seria a “única solução” para resolver o problema. Pessoalmente parece-me muito mais complicado e ouso colocar a seguinte questão: Estão ou não os portugueses no estrangeiro votados ao abandono? Seria na resposta a esta questão que poderíamos encontrar um princípio de resposta a este desinteresse dos portugueses pelas políticas direccionadas para a emigração.
Portugal “ofereceu” de bandeja centenas de milhar de portugueses prontinhos a produzirem noutras economias. E a produzirem em todos os sentidos do termo. Até participam para o equilíbrio do défice demográfico da mesma forma como Portugal está a contar com os imigrantes no seu território para continuar a povoá-lo...
Nestas condições, e se não houver politicas que as transformem, até acho que pagar deputados para o estrangeiro é mais um desperdício de dinheiro e que o governo deveria ser + coerente.

Helena Sacadura Cabral disse...

Esta é uma questão grave que tem de ser bem estudada e discutida, tantas as implicações que acarreta.
É que Portugal continua a ser fornecedor de emigrantes. Pelas últimas notícias que tive, a proporção apontava par qualquer coisa como para cada quinze que entram, correspondem 100 de saída. E o mais grave é que, agora, a nossa emigração é qualitativamente diferente da que, antes, engordava a economia com as suas remessas. Hoje, estamos a deixar fugir a nossa massa cinzenta. O que nos afecta gravemente!

Alcipe disse...

E não estarão estes portugueses integrados já na comunidade política dos seus países de acolhimento? Porquê então querer forçá-los a uma integração fictícia na comunidade política do seu país de origem? Comunidade nacional e comunidade política não têm forçosamente que coincidir, a cidadania não é monolítica... Não são menos portugueses por se terem inserido plenamente nas cidadanias dos países onde vivem e trabalham!
a) Subversivo

Helena Sacadura Cabral disse...

Alcipe lembrou-me uma conversa tida, há dias, em casa do meu querido amigo Nicolau Breyner, onde se discutia a diferença entre cidadania e nacionalidade.
Não sou jurista, mas de facto, "sinto" que há diferença entre os dois conceitos.
É que o jus soli ou o jus sanguini, nem sempre me fazem sentir cidadã dum país. O que me faz cidadã é saber que é ali que eu me sinto integrada, que é ali que está a minha casa, que é ali que me sinto viva.
Estarei errada?

Paulo M. A. Martins disse...

Caríssimo Embaixador,

Para além de outros factores, no que concerne ao Brasil, a realidade foi bem diferente e mais grave.

A votação dos emigrantes no Brasil, nos quais eu me incluo, caíu drasticamente dado que os boletins de votos não chegaram às mãos dos eleitores.

Melhor dizendo: Uns receberam outros não!

No meu caso pessoal, que sempre votei, inclusive no tempo da ditadura, desta vez e pela primeira vez, ainda estou à espera que chegue o meu boletim de voto, tal como outros milhares de eleitores...

Portanto, a abstenção atribuída aos eleitores do Resto do Mundo é falsa, pois uma parte considerável foi impedidos de votar!

Atribue-se esta circunstância ao facto de os Correios brasileiros passarem ou passam ainda por um período de greves, mas diariamente sempre recebi toda a restante correspondência, só o boletim de voto é que nunca chegou às minhas mãos!...

Assim sendo, como é possível uns terem votado e outros não?

Até parece que estamos perante um caso de POLÍCIA!

Notícias postas a circular, ontem, revelaram que os votos do Brasil e da Venezuela não chegaram a entrar na sala de escrutínio e foram antecipadamente jogados no lixo!...

Neste contexto, urge questionar se estas eleições, no que concerne aos eleitores do Resto do Mundo, foram democráticas, sérias e transparentes?

Por outro lado, a "brilhante, inteligente e competente" reestruturação consular, levada a cabo pelo Governo, também teve o seu contributo negativo e decisivo nos resultados apurados!

Quer se queira quer não!

Façam as análises que fizerem, mas esta foi a crua, dura e escandalosa realidade dos factos, cujas permissas são bem diferentes das que foram enunciadas e expendidas ao longo das notícias divulgadas.

A CNE - Comissão Nacional de Eleições, que deve ou deveria ter conhecimento dos factos, já deveria ter tomado uma atitude diferente da que tomou.

Razão pela qual parece estar-se a gerar um movimento em ordem a que a votação do Resto do Mundo seja anulada e repetida.

Em matéria de eleições e votações não pode nem deve haver a menor dúvida e, muito menos, suspeição, mas parece que os factos apontam para aí...

Forte abraço.
Paulo M. A. Martins

Fortaleza (CE) - Brasil

Anónimo disse...

Justamente, Alcipe.

Por isso mesmo, nalguns países existe a regra de que após um período de continuada permanencia no estrangeiro (10 anos), perde-se o direito de voto, dado se considerar igualmente perdido o contacto com a realidade do país.

Duro, eu sei. Não é para nós.

M. Alverca

Voz do Seven disse...

Eu votei... quer dizer enviei o meu voto, só não sei se chegou ao destino. Uma das formas de eu saber, rastreando pela web, seria enviar o sobrescrito via Sedex, mas convenhamos, cinquenta e tal reais (20 euros) é obra... dá para comprar um quilo de bacalhau e com mais uns trocados também uma garrafita do Dão, já que os prazeres da boca ainda são a melhor forma de matar saudades. Por outro lado... sei que votar é um dever cívico, mas também é verdade que no xadrez político actual quase que já se sabe quem vence as eleições no exterior principalmente no círculo Fora da Europa o que é deveras desmotivante para quem estava habituado a uma certa "luta" (só estou no Brasil há 7 anos) e sendo assim enviei apenas registado... se chegou a Lisboa é que não sei.
Com tanta tecnologia que abunda por aí não haverá forma segura de votar via internet? Afinal fazem-se transferências de dinheiro, por exemplo, e parece-me que seguramente...
Falta de vontade política é o que é. Para além de "abagunçarem" (espero que exista) as coisas (nas Europeias, é presencial, nas legislativas é por correspondência) não se entendem:uns (PS) querem as legislativas em presença e já outros (PSD) não querem, porque há eleitores muito distantes dos consulados. Ora batatas para as "cabeças"!
Não concordo com a opinião de Alcipe, de "jeito nenhum". Por desejar ser parte integrante na vida do meu país, seja ela política ou até futebolística (ainda ontem vibrei com os Tugas), é que não me considero verdadeiramente um emigrante... prefiro dizer que estou de férias ou a trabalho. Como curiosidade digo até que agora leio mais sobre Portugal do que quanto residia na minha Beira, aliás a primeira coisa que faço pela manhã quando me sento à frente da "máquina" é atravessar o oceano.
Saudações transatlânticas
Neves, AJ
(um lusitano por São Paulo)

Voz do Seven disse...

Esqueci-me de "algo" muito importante, aliás o mais importante na vida de um homem, e que de certo modo justifica também a necessidade que sinto em dar o meu contributo na política do meu país(que na prática pode não resolver nada, mas um homem também tem que alimentar o espírito e sentir-se bem com a consciência). É certo que com os meus 53 anos ainda devo votar pensando na minha pessoa no momento actual, mas o que também é verdade é que devo tentar escolher a melhor das políticas para os mais novos e até para os mais velhos. Para estes porque um dia, se a "máquina" se aguentar, até poderei vir a usufruir dos benefícios de uma boa política social (porque não calçar as pantufas no meu país?) e para os mais novos pela simples razão que tenho um rebento (já bem crescido) que é bem portuguesa e vive em Portugal... esta a mais válida das razões para votar!

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