sábado, outubro 31, 2009

Escritas

As horas que a vida me deixa livres são muito poucas para a leitura de blogues. Quando, durante um certo tempo, tive o meu período de "osceosidade" (estado de espírito só para iniciados, que não vem nos dicionários), passei muitas noites a saltitar pela blogosfera. Quem sabe se não é ainda a escondida memória desses tempos que hoje me afasta dos blogues? Apenas de quando em vez, passo, sem o menor critério, por um ou outro blogue, para o qual alguém me chama a atenção, sem rotina de consulta a "favoritos", que teimo em não registar, quase sempre levado por uma espécie de pesquisa arbórea, remetido de um sítio para outro e daí para outro ainda, até que me canso e recolho a penates.

Hoje calhou-me passar por um blogue de que já aqui falei, escrito "a sério", por quem sabe escrever - não este escrevinhar despretencioso e ligeiro, mas a solidez profunda de um texto literário.

Ler "As cidades em que vivo", escrito no seu "Tim Tim no Tibete" pelo embaixador e escritor (ou será o contrário?) Luis Filipe Castro Mendes, foi um bálsamo nesta tarde de sábado parisiense. E serviu, do mesmo modo, como recordação dos dias que ambos passámos juntos em Delhi e em Budapeste, das muitas horas em livrarias ou em charlas soltas à volta do copo de velha amizade, como também algumas vezes aconteceu, já há muito tempo, aqui por Paris e mais tarde por Viena. Nesse texto fala também do Rio, como podia falar de Luanda, cidades que partilhamos sentimentalmente, cada um à sua maneira, sem nunca por lá nos termos cruzado.

Leia-no e, garanto, ficarão eternos clientes. Como imagem, deixo o Ganesh, o deus dos escritores, como ele.

6 comentários:

estouparaaquivirada disse...

Sr. Embaixador,
Pois eu, venho aqui pelos mesmos motivos que o levam lá!
Vou agora mesmo seguir o seu conselho cheia de curiosidade e interesse.

Kanimambo disse...

Bom dia Sr Embaixador, os seus motivos são os mesmos que levam muitas outras pessoas à procura de encontrar conteúdo nos kms de escrita muitas vezes desperdiçada e nada construtiva. Bem haja, por nos servir de guia!

Helena Oneto disse...

Fiz uma visita ao "Tim Tim no Tibete". A leitura de alguns dos recentes posts iluminou este domingo cinzento. Viajar em tão boa companhia é um previlégio. Graças a si, Senhor Embaixador!

Helena Sacadura Cabral disse...

Ui! Senhor Embaixador que me "bateu"...
Sempre me considerei uma escrevinhadora e nunca autorizei ninguém, senão a apresentar-me como tal!
Pumba, não é que estando totalmente de acordo com o seu texto, as palavras que usou se me aplicam inteirinhas?
O meu escrevinhar também é despretencioso e ligeiro. Mas será que aqueles a quem o estilo se aplica, não poderão dar-se ao luxo de terem o prazer de partilhar o que sentem ou o que pensam?
Ando tão cansada de génios - na literatura, na arte, na ciência, na política - que pergunto a mim própria e, agora a si, Senhor Embaixador, se os que são apenas normais não terão, também, o direito de se exprimir?
Estarei errada? É que a vida é feita, maiortariamente, de gente comum...

Alcipe disse...

A figura retórica que utilizaste ("self deprecation") é elegante, mas parece ofender uma tua leitora, que aliás teve a gentileza de estimar um poema meu...

Nem tu te consideras um "escrevinhador" nem eu te considero como tal e ambos sabemos isso. Há a diferença que o Roland Barthes fazia entre o "écrivain" (que às vezes tento ser)e o "écrivant" (que somos todos as mais das vezes que pegamos nas pena - isto é, no teclado...). Mas como já não se lêem autores franceses, não vale a pena explicar...

Helena Sacadura Cabral disse...

Prezado Alcipe não me ofendi porque o nosso Embaixador tomava a acusação para si próprio. Apenas o "debiquei", tornando-me visada das suas próprias palavras. Não é todos os dias que podemos fazer isto a um Embaixador!
E deixe-me dizer-lhe que nem a "ecrivant" eu chego. Mas o prazer que tiro do meu escrevinhar é tão grande que até me permite a ousadia de por aqui andar!

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