segunda-feira, março 04, 2013

... e Paris aqui tão perto

Sensação curiosa esta: passar por Paris - aterrar aqui em Roissy, para apanhar um avião para Estrasburgo - como se se tratasse de um qualquer aeroporto, como se, ali bem perto, não estivesse a cidade onde, até há pouco mais de um mês, vivi desde 2009. Com a maior das franquezas, devo dizer que não tive a menor tentação, nem vontade, de dar uma saltada a Paris. Como se ainda fosse cedo para rever amigos e lugares.

Sempre tive por curiosa esta minha propensão para "fechar" as cidades onde vivi. Aconteceu-me sempre, sem nenhuma exceção - em Oslo, em Luanda, em Londres, em Nova Iorque, em Viena e em Brasília. Àparte esta última, a todas já regressei, a algumas por mais de uma vez, mas apenas tempos mais tarde, para rever as pessoas, notar os locais e as suas mudanças. Tudo, porém, num registo de que esteve em absoluto ausente qualquer espécie de nostalgia.

Algumas pessoas acham estranha esta minha atitude. Devo dizer que até eu! De certa forma, ela pode ser lida como uma espécie de defesa, uma fuga implícita à constatação da impossibilidade de um regresso. Ou talvez não: pode ser apenas a necessidade de me concentrar a 100% no futuro, que me obriga a colocar parêntesis no passado. Seja lá como for, a verdade é que é muito agradável nunca sentir qualquer dependência dos dias de ontem.

12 comentários:

Anónimo disse...

É assim, Senhor Embaixador, quando se acredita que a vida é feita por "etapas". Quando se aproveita a nossa passagem pelos lugares que nos são dados usufruir no Mundo, - sem pensarmos apenas nos dólares, nos euros ou nos yuanes -, nem todos os nossos mas próximos nos entendem, quanto mais os outros?! Percebo os seus sentimentos, até porque agarrou a sua "nova etapa" de vida com as duas mãos. Como estou em Paris, deixo-lhe a informação de que os dias já cresceram, que os junquilhos amarelos se vendem nas esquinas das ruas, a assinalar o fim do Inverno e que as frésias, de todas as cores anunciam a Primavera que vai e volta... Aproveite esta etapa da maneira como a sentir melhor... pois a mocidade não volta mais!

Anónimo disse...

Exmo.embaixador,

O Brasil acaba de divulgar em http://diplomatizzando.blogspot.pt/2013/03/salarios-de-diplomatas-no-exterior.html?m=1, quando disponibiliza por posto aos seus diplos de recursos financeiros. Seria possível tecer algum comentário face â situação europeia nomeadamente, nacional. Considera que dispomos de meios comparáveis ou resultados práticos, ao nível da representação idênticos?
Cumprimentos

Anónimo disse...

Felizes aquelas que trabalharam e viajaram fora do país, juntando o útil ao agradável !




Alexandre

Anónimo disse...


"Ou talvez não ..." em diante diz tudo o que eu também sinto a chegar aos 66 anos e com uma vida bem preenchida - ainda hoje - de tudo aquilo que ela costuma trazer de bom ou de menos bom.

Continuo a conviver mal com os saudosismos serôdios sejam de que tipo forem , os "bons velhos tempos" , na altura , talvez não tenham sido assim tão bons .
As pessoas é que eram mais novas ...

RuiMG

Anónimo disse...

Brilhante e sucinta lição de psicologia comportamental.

Ontem foi, hoje é e amanhâ cria-se.

Guilherme.

Helena Sacadura Cabral disse...

Como eu o compreendo!
A vida faz-se por ciclos. Uns mais determinantes do que outros. Mas que se fecham.
Quando se reabrem é sempre noutra perspectiva.
Vivi em Paris seis anos muito importantes. Quando lá volto estou em casa. Mas, cada vez que lá torno, sou sempre uma pessoa diferente.
Ainda bem!

Anónimo disse...

Paris, depois de se lá viver uns anos nunca se fecha. Por outro lado, às vezes, até se tem medo de lá voltar para não se ter o horror de ter de lá sair outra vez mas... tudo depende como se viveu a cidade de Paris.

Anónimo disse...

É preciso ter muita força interior para não tomar duas vezes banho no mesmo rio. Chapeau!

Isabel Seixas disse...

Quando o futuro é tão estimulante ou mais que o presente,não há espaço para nostalgia.

patricio branco disse...

uma sensação e consciencia do capitulo encerrado, da folha passada, etc. aliás é de facto a melhor atitude, agarrar-se ao passado ou querer revive-lo mão adianta, alem de que talvez o sitio de muito frequentado esteja gasto...

Portugalredecouvertes disse...

Estaria sempre em estado de luto se sentisse nostalgia após tantas mudanças!

freitas pereira disse...

Notre-Dame est bien vieille : on la verra peut-être
Enterrer cependant Paris qu’elle a vu naître ;
Mais, dans quelque mille ans, le Temps fera broncher
Comme un loup fait un bœuf, cette carcasse lourde,
Tordra ses nerfs de fer, et puis d’une dent sourde
Rongera tristement ses vieux os de rocher !
Bien des hommes, de tous les pays de la terre
Viendront, pour contempler cette ruine austère,
Rêveurs, et relisant le livre de Victor :
– Alors ils croiront voir la vieille basilique,
Toute ainsi qu’elle était, puissante et magnifique,
Se lever devant eux comme l’ombre d’un mort !

Gérard de Nerval, Odelettes

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