quarta-feira, agosto 03, 2016

Lembram-se do BES?

Foi precisamente há dois anos. Tenho pena se as televisões (coisa que não vejo, por estes tempos) não recordarem aos portugueses as declarações de Pedro Passos Coelho e de Maria Luís Albuquerque, distanciando-se e assegurando que o assunto não passava de uma mera questão privada com a qual o governo nada tinha a ver, tal como depois fizeram no caso da PT. E, do mesmo modo, seria interessante registar as posições de então do Banco de Portugal, cujos esforços de "acalmação" passaram por colocar o presidente da República e o líder da oposição a espalhar mentiras sobre o real estado do banco. Este país é um paraíso de Pilatos.

Antes, já tinha sido o BPN e o BPP. O BES, pela sua importância, era contudo cabeça de cartaz e tornou-se no mais negativo fator reputacional sobre a imagem económica externa do país. Depois, foi o que se viu. O Banif foi por águas (espanholas) de bacalhau, connosco a pagar. O Novo Banco patina a olhos vistos. O Banco CTT mostra os seus primeiros prejuízos. Engolfada nos conflitos pessoais que são a imagem de marca da "old boys's network" que é o clube da banca, a Caixa Geral de Depósitos, essa jóia da coroa que o PSD tinha o sonho de pôr com dono (estrangeiro, pela certa, porque esse era o objetivo das privatizações, estratégia que só falhou uma vez), foi instabilizada como nunca antes o fora, na sua digna história centenária. Fora disso, a União Europeia, sob o silêncio político português em Bruxelas, encarregou-se de destruir a principal fonte de rendimento do BPI, que há muito já deixara de ser um banco português, e o BCP está, dia-sim-dia-não, nas notícias, o que é o pior que pode acontecer a um banco, sendo agora palco de mais uma bulha pelo seu controlo, com angolanos e chineses à mistura.

Esta não é uma nota de culpas. Confesso que, nos dias de hoje, interessa-me muito pouco o "naming names" vingativo, o apontar de dedos a fulano ou a cicrano, o escarafunchar no passado, o "voyeurisme" sádico e algo invejoso do desmantelar dos ex-poderosos, feito naquelas comissões parlamentares que, nos dias de hoje, se assemelham a instrumentos para a construção de currículos mediáticos para os deputados intervenientes, a caminho de uma futura secretaria de Estado como recompensa. A mim, preocupa-me apenas o futuro e, dentro deste, a triste constatação de que estamos perante um sistema bancário frágil, que reflete uma economia frágil, de um país muito frágil. O qual, sendo o nosso, merece que essa nossa preocupação e angústia nos levem à exigência máxima - de rigor, probidade e transparência - sobre aqueles que voluntariamente se oferecem para o gerir, no governo, parlamento e outras instituições do Estado. 

2 comentários:

José Amador disse...


Muito bem, Sr. Embaixador. Julgava-o de férias mas, pelos vistos, a cabecinha não dá descanso mesmo com uma praia ou uma montanha a seus pés. Eu percebo: quem não sente, não é filho de boa gente e isto da Banca tem muito que se lhe diga: má gestão, compadrio, corrupção, deslumbramento por lugares de responsabilidade que nunca deveriam ocupar etc. Atribuo culpas sim senhor e não apenas ao PSD mas sim ao Centrão que deu cabo da nosso sistema financeiro, Caixa incluída. Como diz o caro camarada Jerónimo "é tudo farinha do mesmo saco"; e eu acrescentaria e de péssima qualidade.
Zé maria

Anónimo disse...

Não foi o Centrão que deu cabo da banca portuguesa, nem mundial. Houve vários factores. Mas o principal foram os banqueiros. Quando ocorre um homicídio que a segurança do Estado não consegue impedir,o culpado é. apesar de tudo, o assassino, não o Estado como os media hoje nos querem convencer. Acresce no caso da banca que os países ficaram de tanga e os banqueiros recheados.
Fernando Neves

Manuel Alegre

Tenho muita pena pelo facto de não ter podido estar ontem presente no lançamento do livro de memórias de Manuel Alegre. Manuel Alegre é, nes...