domingo, fevereiro 14, 2016

A simpatia de um embaixador

O embaixador dinamarquês em Lisboa foi ao parlamento português, correspondendo a um pedido feito para dar explicações sobre medidas polémicas adotadas no seu país face aos refugiados, que haviam justificado um voto unânime de protesto na Assembleia da República. 

O diplomata havia-se já mostrado disponível para falar na comissão parlamentar respetiva sobre o assunto, o que desde logo revelava uma atitude de grande respeito para com a instituição parlamentar portuguesa.

Tudo estaria bem, se se tivesse passado assim. Porém, o parlamento português, num ato de bravata sem sentido, decidiu convidar (a imprensa disse “convocar”) o diplomata, “esquecendo” deliberadamente a anterior disponibilidade mostrada por este. Alguns deputados tiveram consciência da indelicadeza deste ato, a maioria não teve. O que é triste.

Convém deixar muito clara uma coisa: nenhum diplomata estrangeiro tem a obrigação de obedecer a uma “convocatória” do parlamento português, nem sequer de aceitar um “convite” por este formulado. A Assembleia da República não tem competências nesta área que lhe conferiram esse direito. 

As relações entre os diplomatas em posto em Lisboa e o Estado português processam-se exclusivamente por intermédio das duas únicas entidades constitucionais que intervêm na sua acreditação: governo, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e Presidência da República.

Para sublinhar ainda mais o absurdo desta situação, convém notar que nem os próprios embaixadores portugueses, salvo em caso de convocatória por matéria em investigação em comissão parlamentar, são obrigados a estar presentes em audições no nosso parlamento. Podem fazê-lo, a convite mas sempre sob autorização do governo. Sei do que falo, porque fui o primeiro embaixador a estar presente numa comissão nessa condição.

Voltando ao caso em apreço, quero deixar uma palavra pela simpatia e respeito para com Portugal demonstrados pelo embaixador da Dinamarca.

(Artigo publicado no Diário de Notícias de 15.2.16)

sábado, fevereiro 13, 2016

Aeroporto Humberto Delgado


O governo decidiu dar ao aeroporto da Portela o nome de Humberto Delgado. Uma excelente decisão, consagrando alguém que foi o fundador da TAP e diretor-geral da Aeronáutica Civil, uma das pessoas que impulsionou, como ninguém, a aviação comercial em Portugal. Mas há mais razões para além disso.

Depois de ter sido um grande apoiante da Ditadura Nacional, no período imediatamente subsequente ao golpe militar de 28 de maio de 1926, o general Humberto Delgado viria, nos anos 50, em especial depois da sua passagem por Washington como adido militar, a manifestar um afastamento crescente face ao regime salazarista. Pouco antes das eleições presidenciais de 1958, chegou a setores da oposição democrática a informação de que um general, antes ligado ao regime, se mostrava crítico de Salazar. Foi António Sérgio quem canalizou essa informação para o seio das forças oposicionistas mais moderadas, que então buscavam um candidato presidencial, depois de terem pensado em Jaime Cortesão e Mário de Azevedo Gomes. Aproximado por esses democratas, Delgado decidiu arriscar a aventura.

Mais à esquerda, o PCP mostrou-se inicialmente cético. Curiosamente, os comunistas tinham chegado a encarar a possibilidade de apoiar uma figura clássica do anti-salazarismo, Cunha Leal, personalidade da Primeira República que tivera uma posição algo equívoca no 28 de maio, mas que cedo se confrontara com Salazar. Ao conhecerem a hipótese Delgado, e sabedores das ligações deste aos EUA, os comunistas logo o rotularam, no "Avante!", de "general Coca-Cola", avançando como seu candidato com o nome de um advogado que era seu "compagnon de route", Arlindo Vicente. Porém, percebendo o potencial de mobilização de Humberto Delgado, o PCP acabaria por aceitar apoiá-lo, num acordo que ficou conhecido como o "pacto de Cacilhas".

A campanha de Humberto Delgado assustou o regime, com nunca antes tinha acontecido. As cidades por onde o general passava enchiam-se de adeptos e houve, no Porto e em Lisboa, manifestações públicas de uma dimensão nunca vista. A repressão policial acabou por se exercer, o que não deixou mesmo de provocar tensões fortes no seio da "situação" - como era designado então o ambiente do regime. 

A imagem que ilustra este texto foi tirada na minha terra, em Vila Real, em 22 de maio de 1958, em frente ao antigo Hotel Tocaio, julgo que depois de um almoço oferecido ao candidato oposicionista. Antes disso, Delgado depositara um ramo de flores no monumento ao herói republicano Carvalho Araújo. A uma centena de metros de distância, com os meus 10 anos, recordo vivamente ter estado ao lado do meu pai, cujo "republicanismo" (à época um sinónimo de partilha de ideias democráticas), foi superior à prudência que sempre aconselharia um funcionário público a não ser visto nesse contexto.

Delgado viria a perder umas eleições marcadas por imensas fraudes, as quais, mesmo que não tivessem tido lugar, talvez não tivessem obviado à sua derrota, atento o forte condicionamento da opinião pública que então existia. Na sua campanha, ficou famosa a frase que pronunciou no Café Chave d'Ouro, no Rossio, quando perguntado o que faria com Oliveira Salazar, se acaso fosse eleito: "Demito-o, obviamente demito-o!". Muitos são de opinião de que o destino de Delgado, que veria vários dos seus momento públicos fortemente reprimidos, ficou selado naquele instante. Creio que se enganam: Salazar sabia bem que, em caso de vitória de Delgado - o seu opositor e vencedor do sufrágio foi o contra-almirante Américo Tomaz, uma figura risível do refugo do regime - seria, com toda a naturalidade, afastado. E há muito que decidira não arriscar.

O período posterior às eleições foi complexo para Delgado. Demitido das funções oficiais que desempenhava, procurou manter o movimento que estivera na base da sua campanha, o que motivou uma constante atenção da polícia política. Tendo sido advertido de que estaria iminente a sua prisão, pediu asilo político na embaixada brasileira em Lisboa, ironicamente instalada num edifício ao lado da polícia política, a PIDE. Depois de meses de negociações, o embaixador brasileiro, o intelectual e democrata Álvaro Lins, conseguiu negociar a saída de Delgado para o Brasil.

Atravessado o Atlântico, o general, em lugar de ser um fator de união dos democratas portugueses, acabou por criar imensos conflitos no seio dos exilados lusos, sobre os quais pretendia manter uma chefia, num modelo algo autoritário, que muitos não aceitavam. Humberto Delgado, muito simplesmente, entendia ser o "presidente" legítimo do país, cuja vitória fora usurpada.

Do Brasil, Delgado partiria tempos mais tarde para a Argélia, onde se tornaria a figura de topo de uma organização que federava a oposição ao regime de Lisboa: a Frente Patriótica de Libertação Nacional. Descontente com o funcionamento da organização, que acusava - não sem alguma razão - de estar dominada por alguns egos e tutelada politicamente pelo PCP, o general cedo entrou em dissídio com a maioria dos exilados portugueses na Argélia. Isolado e vulnerável, alguns serventuários da polícia política portuguesa viriam a montar-lhe uma armadilha numa aldeia espanhola próxima de Olivença. sendo morto a tiro. Faz hoje precisamente 51 anos.

Humberto Delgado foi uma figura politicamente controversa, e até frequentemente contraditória, dotado de um temperamento impulsivo, algo arrogante e muito conflitual. Porém, representou para os democratas portugueses dessa passagem dos anos 50 para os anos 60, um sopro de esperança de uma dimensão nunca antes atingida. Por tudo isso, que o consagrou na História contemporânea, e pelo que fez pela aeronáutica portuguesa, merece amplamente que o aeroporto de Lisboa passe, de futuro, a ter o seu nome.

Um belo gesto que honra o governo de António Costa.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Solidariedade


Devo dizer que fiquei com pena que Mário Centeno não tivesse aproveitado o encontro com os jornalistas, depois do Eurogrupo, em Bruxelas, para dizer algo parecido com isto:

"Aproveito para agradecer ao meu colega alemão a preocupação que demonstrou com a situação financeira portuguesa. É sempre confortável ouvir um alto responsável de um grande país amigo dar mostras de atenção e interesse específico sobre os nossos problemas, quando sabemos que outros Estados membros revelam fragilidades e dificuldades de cumprimento das metas orçamentais - como aliás aconteceu já com a própria Alemanha, no tocante ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, o que mereceu então a compreensão de todos nós.

Esta é, contudo, a confirmação de que poderemos sempre contar com o governo alemão no caso do futuro poder vir a trazer algumas surpresas a um executivo português cuja legitimidade democrática tive o gosto de ver reafirmada quando vim pela primeira vez ao Eurogrupo, em palavras simpáticas do meu amigo Wolfgang Schauble.

Aliás, nada disso é novo. Em Portugal, nunca esqueceremos que Angela Merkel, em 2011, esteve, até ao fim, ao lado de Lisboa, apoiando o PEC IV, de cuja iniciativa foi a inspiradora, na tentativa de evitar o resgate. Sempre ficou muito claro que não foi por sua vontade que a "troika" foi chamada a intervir em Portugal. Mas não só! Os meus antecessores, Vitor Gaspar e Maria Luísa Albuquerque, puderam beneficiar sempre, e de forma constante, do apoio amigo de Berlim, para as políticas que, ao tempo, entenderam dever destinar aos portugueses. Aliás, os portugueses também não esqueceram isso, podem crer!

Mas não posso deixar de aproveitar este ensejo para expressar uma palavra de grande solidariedade portuguesa face aos gravíssimos problemas que a banca alemã atravessa. A crise que o principal banco alemão de investimento, o Deutsche Bank, sofre nos dias de hoje, a somar-se à preocupante situação que sabemos persistir na banca de alguns dos Länder alemães, obrigam a que estejamos atentos e, mais do que isso, profundamente solidários com os nossos amigos da Alemanha e as ameaças que possam impender sobre o seu sistema bancário. No que pessoalmente me toca, e em tudo quanto lhe puder ser útil no âmbito europeu, Wolfgang Shauble sabe que pode contar comigo!"

Direito à gargalhada

Foi suspensa, no Twitter, uma conta humorística que havia sido criada há dias, incluindo frases imaginárias atribuídas ao primeiro-ministro António Costa, em jeito de recomendações ridículas para hipotéticas poupanças. Tratava-se de uma evidente iniciativa de gente hostil ao executivo, no exercício pleno do seu inalienável "direito à gargalhada".

As frases eram, em geral muito divertidas e, em nenhum momento, criavam a menor dúvida sobre o seu caráter fictício. Conhecendo-o, estou seguro que o próprio António Costa deve ter achado graça à brincadeira, que saudavelmente se insere na histórica tradição nacional de "gozar" com o poder. Ai do dia em que a percamos...

Não quero crer, por um segundo, que por detrás da suspensão da conta possa ter estado a iniciativa sisuda de alguém ligado ao atual governo, cioso de "proteger" António Costa. Não acredito. Porém, se por absurdo isso aconteceu, voluntario-me para disponibilizar os meus espaços nas redes sociais para uma contra-ação com o vigor necessário para pôr a ridículo quem se atreveu a tal. 

Era o que mais faltava que o país deixasse de ter o direito de se rir do poder político! O José Vilhena daria voltas na tumba!

Liberdade e segurança


A decisão da França de introduzir no seu texto constitucional a possibilidade de retirada da nacionalidade a cidadãos binacionais culpados de “ofensa grave à vida da nação” – na realidade, pretendendo abranger pessoas ligadas a atos terroristas – tem sido contestada em vários setores. Percebe-se esta preocupação do executivo francês, por boas e menos boas razões.

As boas razões têm a ver com a importância para a França da ameaça terrorista. Os acontecimentos de 2015 (Charlie Hebdo e múltiplos atentados em Paris) suscitaram na sua opinião pública uma forte reação, porque questionaram, de uma forma extrema, a própria identidade e sentido nacional de quem é formalmente francês. Paralelamente, ficou instalada no seio da sociedade uma sensação de vulnerabilidade e de desconfiança quanto à capacidade do Estado em cumprir as funções de tutela da segurança dos seus cidadãos.

A França, um país generoso em matéria de nacionalidade – o seu atual primeiro-ministro, até aos 20 anos, teve apenas a nacionalidade espanhola -, interroga-se hoje sobre se essa sua extrema diversidade não estará a ser usada para colocar em causa a unidade nacional. 

Não sei como nós, portugueses, nos sentiríamos se acaso, como vi ocorrer em França, num estádio de futebol, ouvíssemos o nosso hino a ser apupado por uma grande parte dos espetadores e víssemos desfraldadas, por todas as bancadas, bandeiras de um país que nada tinha a ver com o jogo em causa.

As “menos boas” razões prendem-se, desde logo, com a objetiva ineficácia da medida: para um terrorista, a última questão que lhe importará será uma cidadania francesa que objetivamente despreza. 

Porém, como português, tendo em França centenas de milhar de compatriotas com dupla nacionalidade, preocupa-me a utilização que um eventual governo menos atento às liberdades e ao acolhimento da diferença, poderá vir a fazer com o conceito de “ofensa grave à vida da nação”.

Muito se interrogam assim sobre se esta decisão não poderá comportar um certo oportunismo político, isto é, se um governo de esquerda, uma área política tradicionalmente não vista como a mais sensível às questões da segurança, não estará, por esta via, a “apanhar o comboio” de um discurso securitário que, em regra, surge tutelado pela direita, ou mesmo pela extrema-direita. 

Mas qual é o problema, perguntar-se-á o leitor? É muito simples: restará saber se a esquerda, que tradicionalmente assume o papel de guardião das liberdades, não estará a abrandar esta sua histórica atenção ao deixar consagrar na lei fundamental algo cujo derradeiro aproveitamento poderá não conseguir controlar.

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Fronteiras


Foi um excelente e esclarecedor debate, com interventores de muita qualidade, aquele que hoje, ao final da tarde, teve lugar, moderado por António José Teixeira, na Sociedade de Geografia. 

A questão das Fronteiras, tema do n° 6 da revista "XXI - Ter opinião", encontrou naquele belíssimo espaço (desconhecido de muitos portugueses) o seu lugar ideal de tratamento. Como foi lembrado, naquela como em outras "sociedades de Geografia" dos países europeus com colónias, desenharam-se e redesenharam-se, às vezes a régua e esquadro, muitas fronteiras africanas, que ainda hoje partem ao meio etnias e causam tensões sem fim. Por um momento, senti por ali perpassar o espírito, nem sempre benfazejo, do "mapa cor-de-rosa" e das imposições da "pérfida Albion", que levou o empolgado letrista de "A Portuguesa" a escrever o épico "contra os bretões, marchar! marchar!", que o politicamente correto de um país às ordens de Londres acabou por transformar no masoquista "contra os canhões, marchar! marchar!".

Durante o debate, houve um desvio natural para a questão dos refugiados, causa maior que trouxe as fronteiras à ribalta na Europa. Neste tópico, muito se ficou a saber sobre o modo excecional como Portugal se disponibilizou para acolher refugiados chegados à Europa. Foram também dadas informações de grande interesse sobre o "estado da arte", no tocante a essa questão, em todo o espaço da União. Um dos oradores fez muito bem em lembrar que, em matéria de conflitos, quando se fala, por exemplo, na barbárie de uma guerra como a da Síria, onde morreram 500 mil pessoas, à Europa conviria adotar alguma modéstia. Só no século XX, nas suas duas Guerras, morreram cerca de 100 milhões de pessoas e a atual onda de refugiados é "peanuts", comparada com as vagas que assolaram o continente europeu, em condições bem mais trágicas. Lembrar isto não atenua minimamente a tragédia dos que hoje sofrem, mas deveria ajudar os europeus a não mostrarem soberba e indiferença em face dos problemas dos outros, como se isso nunca os tivesse atingido no passado e, quem sabe, pode vir a afetá-los no futuro.

Quem estiver interessado pode aqui consultar o texto com que contribuí para este número da "XXI - Ter Opinião", intitulado "Schengen e as ilusões europeias".

Laurent Fabius


Laurent Fabius deixou a chefia da diplomacia francesa, passando a assumir a presidência do Conselho Constitucional, um órgão que, no ordenamento constitucional francês, não tem a relevância de um tribunal, mas onde, por exemplo, têm assento os ex-presidentes da República. É um fim de linha política "honorable" para uma das figuras mais proeminentes da família socialista francesa, que, a meu ver, fez um excelente lugar como ministro dos Negócios estrangeiros, consagrado com um papel decisivo na cimeira do clima e, embora num grau menos determinante, no acordo nuclear com o Irão. Num tempo em que a imagem internacional da França é de algum declínio, Fabius contribuiu para o disfarçar.

Fabius é aquilo que a direita costuma qualificar de "esquerda caviar". Oriundo de uma abastada família judaica, ligada ao negócio de antiguidades, emergiu, ainda jovem, pela mão de François Mitterrand, que o levou até ao cargo de primeiro-ministro. Atingido pelo escândalo da aquisição do sangue contaminado, que faria outras vítimas políticas noutros países, incluindo Portugal, fez uma travessia do deserto, durante a qual ficou famosa a sua oposição ao defunto "tratado constitucional" europeu, em cuja rejeição pela França teve um papel decisivo, o que os europeístas nunca lhe perdoaram.

Fabius terá sido dos últimos a acreditar em François Hollande como possível presidente socialista. É famosa a sua frase quando, num colóquio, foi perguntado sobre as hipóteses do atual presidente: "Hollande? On rêve!". No entanto, com a vitória de Hollande nas "primárias" socialistas, este viria a chamá-lo para o seu círculo próximo. Conheci-o pessoalmente, nesse período pré-eleitoral. Falámos mais do que uma vez, nesse tempo em que os diplomatas em posto em Paris procuravam sondar sobre o que seriam as intenções e orientações de um possível executivo socialista. Na minha perspetiva, cedo se revelou como uma das figuras de grande qualidade no círculo político do futuro presidente. A sua passagem à chefia do Quai d'Orsay só foi uma surpresa para quem estava desatento.

Diz-se que razões de saúde poderão ter determinado esta sua saída de cena. Era um "peso pesado" importante no governo, embora nunca fosse um "bem amado" no seu seio, bem como junto dos diplomatas. Alguma arrogância e sobranceria marcaram sempre o estilo de Fabius. Mas, repito, olhando do exterior, acho que foi um nome que dignificou internacionalmente a voz da França e, pelo menos aparentemente, foi leal a Hollande até ao fim.

Revista XXI


É logo, esta quinta-feira, pelas 18.30 horas, na Sociedade de Geografia (uma bela escolha, atendendo ao tema), que terá lugar o lançamento de mais um número, o 6º, da revista XXI, Ter Opinião, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, desta vez dedicado ao tema das Fronteiras.

A coordenação deste número pertence a António José Teixeira, que me convidou a nela publicar um texto que intitulei "Schengen e as ilusões europeias".

Vou tentar passar por lá, embora a ubiquidade, não sendo teoricamente impossível, seja complicada de realizar. 

António Monteiro Cardoso


É logo à tarde, pelas 18.00 horas, nesta quinta-feira, na Livraria Férin, na rua Nova do Almada, 70, a homenagem a António Monteiro Cardoso, há pouco falecido.

Na ocasião, haverá uma apresentação do seu livro "Boas Fadas que te Fadem" e a apresentação de vários testemunhos.

Lá estarei.

Ulmeiro


Li ontem na imprensa, com tristeza mas sem surpresa, que a Livraria Ulmeiro atravessa uma fase de grande dificuldade. Tenho pena pelo livreiro e editor José Ribeiro, pelo seu notável esforço de décadas em sustentar um projeto que já foi de grande sucesso.

A vida de algumas livrarias, em especial das que permaneceram ligadas a um modelo algo tradicional, é muito difícil. Só em Lisboa, e sem grande esforço, consigo lembrar-me de imensos espaços que foram fechando nos últimos anos.

A Ulmeiro, criada em 1969, chegou a ser uma referência em Lisboa, um local de encontro nos fins-de-semana, onde havia espetáculos e até se fez muita política. Lembro-me bem de a ter visitado logo na primeira semana da sua existência, nessa Lisboa em que as coisas novas eram muito poucas. Foi também uma editora e recordo-me de ter feito para a Ulmeiro, no início dos anos 70, uma tradução de uma obra de Sékou Touré (as coisas que eu fiz!), nunca publicada. Por lá ouvi José Afonso e (creio) poemas lidos pelo Tóssan (quem se lembra dele?).

Embora as perspetivas sejam sombrias para a Ulmeiro de hoje, convidaria quem (ainda) se interessa por livros a passar por lá e ver as pechinchas que existem entre os seus quase 200 mil volumes. Tome nota: é na avenida do Uruguai, 13A (prolongamento da avenida Gomes Pereira), às portas de Benfica.

Ah! E se tiverem uma gata, levem-na. Ela fica a conhecer o Salvador!

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Falar claro

É muito curiosa - e desonesta - a tendência de certos comentadores que, com acinte e aparente gozo, procuram esconder que a recente subida das nossas (e de vários outros países) taxas de juro, para reciclagem dos empréstimos da dívida pública, tem como essencial justificação o ambiente agitado que as bolsas atravessam por toda a Europa (e não só). Esse viés faz-se também sentir em alguns títulos de jornais e rodapés televisivos.

A vontade mesquinha de colar a subida das taxas de juro ao caso do orçamento português, sem a menor comprovação mas apenas pelo seu "wishful thinking", qualifica a mediocridade pedante desses inconsoláveis viúvos da defunta coligação. Ninguém afirma isso lá fora, mas esses arautos da desgraça teimam em insinuá-lo cá dentro. E nota-se o prazer que lhes dá magnificar, para consumo da paróquia, qualquer observação crítica sobre Portugal que consigam descortinar num jornal estrangeiro.

Os eventuais efeitos de qualquer opinião negativa sobre o orçamento português, a existirem - e eu não excluo que possam ocorrer, em alguma medida - só poderiam ser avaliados numa situação "business as usual" dos mercados. E, de momento, isso não existe, pelo que tudo o que por ora se disser - a menos que haja entretanto um "downgrading" pelas agências de notação - não passa de simples e infundadas especulações, destinadas a criar um ambiente de desconfiança e mal-estar na opinião pública.

É preciso que isto seja dito de forma clara.

terça-feira, fevereiro 09, 2016

Reflexão de Carnaval

Hoje, almoçando despreocupadamente com dois colegas, também reformados, um deles saiu-se com esta:

- É uma injustiça não sermos abrangidos pela tolerância de ponto!

Caímos num assentimento coletivo. O outro colega foi mesmo mais longe:

- É um escândalo! A Ana Avoila não protege os nossos interesses. Olha se mexeu uma palha a nosso favor, para podermos beneficiar das 35 horas! É o mexes!

Por mim, fui bem mais radical:

- Sempre achei inconcebível que não esteja regulamentado o direito à greve dos reformados. E fizemos nós o 25 de abril para isto!

Revoltados q.b., acabámos o almoço e regressámos às nossas tarefas.

Em tempo: vários amigos deram, entretanto, achegas que nos tinham escapado (fruto da idade, com certeza) na composição do nosso potencial "caderno reivindicativo": desde logo, o direito a férias, com o respetivo subsídio, e claro!, o de Natal, o óbvio subsídio de refeição e, o que é mais importante, um regime que permita uma distinção clara entre o fim-de-semana e os restantes dias. Começa aqui a gizar-se uma agenda jeitosa. Costa e Centeno que se "ponham a pau"! Isto não é só Carnavais e nós não somos menos importantes que os maquinistas da CP e do Metro...

O Brasil

Conversa com Pedro Pinto sobre o Brasil, para o "Observare"

Pode ver aqui.

Gilberto Ferraz



O meu amigo Gilberto Ferraz faz hoje anos, lá por Londres. A maioria dos leitores não faz a mais leve ideia de quem estou a falar. E é pena.

Gilberto Ferraz é um jornalista que, desde há algumas décadas assentou arraiais "por terras de sua majestade" (deixo isto entre aspas, porque esse é o título do seu futuro livro de memórias e recordações, revelo agora). Hoje, aposentado, continua por lá atento ao mundo, atento a nós e interessado como sempre esteve pelas coisas da vida.

Posso estar equivocado, mas tenho a impressão que foi um dia bem distante, nas manhãs da TSF, no meio daqueles noticiários trepidantes, que escutei pela primeira vez o seu nome e a sua voz. Só no final dos anos 80, numa passagem por Londres, vim a colocar finalmente uma cara naquela voz. Quando, tempos mais tarde, me mudei para a capital britânica, para trabalhar na nossa embaixada, pude contar com Gilberto Ferraz como um interlocutor regular. Construímos então uma boa amizade, feita de respeito e estima pessoal e profissional, que se manteve a partir de então, e já lá vão mais de duas décadas e meia.

O Gilberto, que teve um pé na política (julgo que chegou a representante do PSD ou do PPD no Reino Unido), era também correspondente do "Jornal de Noticias", tendo colaborado com outros órgãos de comunicação social. Paralelamente a tudo isso, trabalhou durante décadas na famosa "secção portuguesa" da BBC, uma excecional escola de rádio e jornalismo. Há uns anos, fui de Paris a Londres e ambos almoçámos na Bush House, a sede da BBC, onde ele se sentia verdadeiramente em casa. Mas ele vai contar-nos um destes dias tudo isso e muito mais, no seu livro.

Por agora, caro Gilberto, aqui lhe deixo um forte abraço amigo de parabéns! 

Vitória mural

(Não, não é erro, é mesmo "mural"). Hoje à noite, atravessando Lisboa duas vezes, por caminhos diferentes pude constatar que a esquerda continua a gozar a sua vitória mural. Por toda a cidade, indiferente à caminhada institucional de Marcelo a caminho de Belém, toda a nossa esquerda continua impante pelas paredes onde a sua propaganda exibe os sorrisos joviais de Sampaio da Nóvoa, de Maria de Belém, de Marisa Matias e Edgar Silva - e só destes!

O descaso com a poluição visual é também um sinal do nosso subdesenvolvimento cívico: este costume bem português de deixar a propaganda eleitoral por semanas, bem depois do sufrágio, tal como as comissões fabriqueiras das freguesias deixam, até que apodreçam, os cartazes das festas e romarias. Verdade seja que ainda subsiste pelo menos um sinal da EXPO98!

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

Amizades

Há dias, depois de um jantar em casa de amigos, um convidado a quem dávamos boleia comentou:

- Não sabia que conheciam tão bem os nossos anfitriões de hoje. É do tempo da faculdade?

Rimos e explicámos que o nosso convívio com esses amigos era relativamente recente, não tinha sequer três anos. O nosso parceiro de percurso ficou siderado! 

- Mas é fantástico! Pela vossa intimidade, parecia que se conheciam desde há várias décadas! 

Algumas amizades tardias na vida, desde que com as pessoas certas e com as quais algumas identidades essenciais se possam estabelecer, podem ser tão genuínas e ficar tão permanentes como amizades mais antigas. Aprendi isto com os anos, a minha mais eficaz escola.

Museu do Aljube


Fui ontem visitar o Museu do Aljube, um espaço que devia ser referência para todas as escolas, porque as novas gerações só virão a entender o que vai ser o seu futuro - e só perceberão as limitações do seu presente - se souberem o que significaram quase cinco décadas com polícia política, censura, repressão das liberdades, agressão colonial, condenando o país a um subdesenvolvimento que, infelizmente, não foi apenas no domínio económico-social.

Com um notável equilíbrio político, sem sectarismos partidários, o trabalho museológico do Museu do Aljube mostra o que foi a luta contra a ditadura e a ideologia que suportava o regime.

Porém, no melhor pano cai a nódoa. Não gostei de ver por lá duas ou três referências à "troika" e à situação que o país viveu nos últimos quatro anos. Havia necessidade? O 25 de abril deveria ser a data limite para um museu desta natureza, se o objetivo é unir as pessoas na rejeição, indignada mas serena, de um determinado tempo passado.

domingo, fevereiro 07, 2016

Erros, lapsos & "gaffes"

O que nos leva aos erros factuais crassos, quando intervimos na esfera pública? Descontado o desconhecimento das coisas, que às vezes também pode ocorrer e que temos de ter a humildade de assumir, há incorreções e até "gaffes" que vamos detetando (ou alguém por nós) na nossa expressão, escrita ou falada. Ontem, dei comigo a inventariar pequenos lapsos nas últimas 48 horas e a perguntar-me por que os cometi, sendo coisas tão óbvias.

Num artigo no último "Expresso", escrevi "Jeu de Pomme", em lugar do quase homófono "Jeu de Paume", quando me referi a um espaço museológico em Paris (felizmente, o "editing" do jornal estava atento). Na véspera, no programa televisivo "Olhar o Mundo", falei de mísseis balísticos "internacionais" quando queria dizer "intercontinentais". Além disso, nesse mesmo programa, e noutro ponto, troquei "democratas" por "republicanos". Num artigo publicado no sábado, no "Diário de Notícias", escrevi "There is alternative", tendo amigos comentado que deveria ter escrito "There is an alternative" - mas, neste caso específico, alimento algumas dúvidas de que não pudesse escrever como escrevi.

É irritante, mas isso é sempre a posteriori, termos de nos arrepender destes deslizes. Comentava isto com um amigo que, muito simpático, me dizia que tudo isto faz parte da vida, em particular da de quem frequenta com alguma assiduidade o espaço público, como tem sido o meu caso. Mas esse querido amigo, mais velho do que eu, não deixou de me abalar com algum realismo: "E há o fator idade, meu caro. Não te esqueças disso!". Infelizmente, esse é o único esquecimento que nunca me atingirá.

sábado, fevereiro 06, 2016

É isto, não é?

Ao ouvir, nas últimas horas, a maioria dos acabrunhados comentadores económicos e figuras dos partidos à direita - e não vale a pena procurar dissonâncias entre eles, porque as não encontraremos nunca - cheguei à seguinte conclusão: este governo de esquerda é acusado pela direita de, nas negociações em Bruxelas, não ter sido suficientemente "de esquerda", por ter aceitado alguma austeridade, a qual, contudo, acaba por ser bem menor do que aquela que um governo de direita teria aprovado - presume-se que de muito bom grado e em total sintonia com a Comissão europeia.

É isto, não é?

"Olhar o mundo"


Durante este fim de semana, no programa "Olhar o Mundo", transmitido em todos os canais da RTP, converso com António Mateus sobre as eleições americanas, a nova Estratégia Global da União Europeia, a candidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU, as difíceis esperanças para a crise síria, o crescente cerco judicial a Lula no Brasil, as tensões entre a Rússia e a Turquia, a saga da formação do novo governo espanhol, o alarme internacional pelo virus Zika, o estado da arte nas negociações entre o Reino Unido e a União Europeia, o papel russo na endémica crise na Moldova e as atitudes belicistas da Coreia do Norte.

Pode ver o programa aqui.

Maduro e a democracia

Ver aqui .