domingo, dezembro 11, 2011

Quai d'Orsay

Há mais de um ano, falei aqui do "Quai d'Orsay - chroniques diplomatiques", um álbum de banda desenhada passado no ministério francês dos Negócios Estrangeiros, ao tempo que era dirigido por Dominique de Villepin (embora, nesta ficção, sob o nome de 'Alexandre Taillard de Vorms'). Saiu agora um segundo volume dessa série, dedicado ao período da guerra no Iraque (país designado por 'Lousdem").

Não estou seguro que a curiosidade com que um diplomata é motivado a ler este tipo de histórias seja comum à de qualquer outro leitor, para quem a vida dos gabinetes e das relações internacionais é marginal ao seu quotidiano. Por mim, devo dizer, diverti-me bastante ao ver reconhecidos no álbum alguns tiques do "métier".

Por lá se encontra a obsessão dos titulares de cargos políticos em conseguir ter, numa simples folha de A4, o essencial de um relacionamento com um qualquer Estado, a "fácil" ordem para preparar um artigo de jornal "para ontem", a determinação em garantir um transporte "impossível" ou a impaciência com alguns detalhes onde, como se sabe, se esconde o "diabo". O texto não escapa à fina caricatura, neste caso muito bem conseguida, de alguns diplomatas-tipo: os irónicos, os "nonchalants", os angustiados, os "workaholics", os autoritários, os "definitivos", os cínicos e outros que tais.

Por uma qualquer razão, o serviço de "cifra", por onde passam as comunicações (os "telegramas diplomáticos") é particularmente visado neste álbum, onde o ministro é colocado a dizer ao chefe desse serviço: "Convosco, podemos sempre ter a certeza de ser informados em tempo real do que se passou na véspera"...

Ainda uma nota para o reaparecimento da figura de 'Claude Maupas', chefe de gabinete do ministro, que retrata, à perfeição, a serenidade e lealdade de Pierre Vimont, um bom amigo que era chefe de gabinete de Villepin, e que hoje dirige o Serviço europeu de ação externa (SEAE)  e de quem já falei aqui.

Finamente, porque a ficção se cruza com a história, vale a pena dizer que, há escassas horas, em solene anúncio na televisão francesa, 'Alexandre Taillard de Vorms', ou melhor, Dominique de Villepin, acabou de anunciar a sua candidatura à presidência da República francesa.

9 comentários:

Um Jeito Manso disse...

Caro Embaixador,

Não me referindo à banda desenhada, poderei apenas referir que quem sabe se o legítimo Alexandre Taillard de Vorms não vai mesmo ser o tal, o que vai resolver o nó górdio que está para aqui armado...?

Villepin tem porte, tem atitude (já antes o demonstrou, nomeadamente ao não apoiar a invasão do Iraque) e agora gostei de saber que não gosta nada de ver a França ajoelhada aos pés dos 'mercados'. Falou e falou 'loud and clear'.

Hollande tem alguma falta de carisma, tem um ar vagamente maçador, talvez não fizesse frente a Sarkozy. Agora Villepin já é outra coisa. Não apenas deve deixar o Sarkozy completamente desestabilizado, como, com este movimento, veio trazer uma emoção especial às eleições francesas. E, como dizia eu no início, quem sabe se ainda ganha as eleições, deixando a madame Merkel 'desasada' e se outro galo não cantará na Europa...?

Que animação deve ir por aí por Paris, com tanta agitação e animação...

Tenha uma excelente semana, Embaixador.

Helena Sacadura Cabral disse...

Sarkozy não podia ter tido pior notícia. E, indirectamente, não sei se o anúncio traz vantagem ou prejuízo a Hollande que, de facto, não tem "punch".
Que pena a França ter perdido DSK!

Mônica disse...

Caro embaixador.
Tudo de bom nesta semana.
com amizade e carinho de Monica

patricio branco disse...

uma gravura de n y para ilustrar a capa do livro de bd sobre o quai d'orsay parece estranho para quem não leu o album.

Anónimo disse...

Qual serà  o melhor percurso para chegar à presidencia da Republica?
O mais conhecido é aquele que tem conseguido, independentemente das qualidades do candidato, mobilizar um forte movimento popular de adesao à sua volta através de um aparelho partidario eficiente.
Com a democracia dos partidos até as assinaturas necessarias à oficializaçao do candidato sao dificeis de conseguir quanto mais uma esperança de vitoria!
A nao ser que cada vez mais surjam muitos e muito bons candidatos fora dos partidos...
José Barros.        

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro José Barros
Ora aí está algo a que eu ainda gostava de assistir, a escolha de um Presidente da República que não tivesse filiação partidária alguma.
Mas no tipo de democracia em que vivemos jamais isso acontecerá!

Anónimo disse...

Este post não me motivou muito a comentar, mas na falta de melhor vou comentar!

Eu percebo que anda tudo nervoso pra saber qual o fim de Sarkozy, como se de uma telenovela se tratasse ! A politica é uma telenovela com actores criados e desenhados para cumprirem determinados papéis !
Eu compreendo que mesmo sabendo que nos filmes e telenovelas as imagens são criadas em estudio, as pessoas se entusiasmam e tomam partido sobre uma realidade que é ficticia! Do cinema vive muita gente assim como da politica! Isto directamente , porque indirectamente ainda vão buscar mais arame!

1-O actor de cinema, através da fama que obtem dos filmes que faz, cobra as suas aparições publicas; tais como festas ; seminários temáticos , homenagens , Carnavais e presenças em discotecas !
2- O Politico, cobra favores que facilmente pode pedir para facilitar licenças, concursos e limpeza de acções de fiscalidade fiscal. Como até influênciar processos judiciais, sem pudor de trair o próprio Estado para o qual serve.

O Clooney ganha arame para promover o nescafé do qual não me parece especialista enquanto o Socrates, o nosso ex primeiro, é um comissionista dos negócios Brasileiros na Europa ( melhor dizendo em Portugal ). Cada um safa-se como pode e sabe ! Os filmes do socrates não precisam de realizador porque é um guião já muito repetido em portugal por outros intervenientes na cena politica nacional!
As poucas privatizações que faltam fazer vão cair nas mãos daqueles que trataram de dar futuro aos ex-ministros. Ou seja, trataram de mostrar aos nossos politicos que há vida e muito dinheiro mesmo depois da politica! Assim os brasileiros trataram de avençar o nosso Socrates para defender os interesses brasileiros, como foi confirmado pela imprensa nacional !é claro que o Socrates vai receber umas Havaianas de cortesia em troca da posição que vão ganhar na EDP!

Voltando ao Sarkozy, não se preocupem com o Homem, porque ele já tem o papel definido para depois das próximas eleições!!! Eu vou dar-lhe um palpite : Barroso para Presidente e Sarkozy para presidente do conselho da União Europeia ?? O que é que vocês acham ?
E o Zapatero ? Ouviram falar do homem? Será que também foi para Paris estudar filosofia?

OGman

Julia Macias-Valet disse...

Very handsome : )
...depois da tempestade a bonança ; ))

E depois aquele "de" que da aquele "je ne sais pas quoi..." que os franceses tanto gostam...apesar de republicanos !

Mas se calhar ja chega de candidatos, nao acham ?

Portugalredecouvertes disse...

Bem me parecia que a personagem esbelta que se estica como que a enfrentar os arranha-céus americanos não seria o sr. Sarkozy (um pouco mais baixote)

então sendo assim é o Sr. Villepin!

Maduro e a democracia

Ver aqui .