terça-feira, maio 15, 2012

Presidência (2)

Foi uma bela cerimónia aquela a que ontem assisti, como convidado, na "Mairie" de Paris, onde o presidente François Hollande foi recebido "pela cidade", com um discurso emocionado do "maire" Bertrand Delanoe. Com rigor e sentido histórico, ambos lembraram, nas suas intervenções, que Paris está para sempre ligada à data inesquecível na qual Charles de Gaulle inaugurou a nova liberdade francesa, no imediato pós-guerra. Uma recordação justa àquele que foi o fundador da V República que agora, uma vez mais, se renova.

Todos os que estavam no "Hôtel de Ville" desejavam sucesso ao novo presidente, na certeza de que um futuro de progresso da França não é indiferente ao futuro de todos nós, nesta Europa turbulenta e interdependente em que vivemos. Mas todos tinham, da mesma forma, plena consciência de que o presidente francês tem, diante de si, um período muito complexo e, essencialmente, não tem muito tempo para reagir à imensidão de problemas prementes. Nestes dias em que emergem os mais diversos comentários, Michel Rocard, o antigo primeiro-ministro, cometeu mesmo o mais notório lapsus linguæ da temporada, ao dizer: "François Hollande n'aura pas un état de grèce", quando pretendia dizer "de grace"...

Na cerimónia de ontem, naquela grande sala de gala da "Mairie" parisiense, praticamente não cabia mais ninguém. Uma larga área era ocupada por cadeiras onde estavam sentadas muitas figuras que a imprensa dá como potenciais integrantes de um governo que só será anunciado hoje à noite. Um amigo, velho "routier" da política francesa, comentava comigo, olhando os assentos desse núcleo de potenciais governantes: "C'est un paradoxe. Aujourd'hui ils sont tous assis, mais demain pour quelques uns il n'aura pas de places..." 

8 comentários:

Isabel Seixas disse...

O teto é divinal,com um céu assim oh como me abstrairia da terra e do mar de gente iludida com a mudança e pseudonascimento de mais um libertador esperado como 2º Cristo redentor(Coitado que responsabilidade para um humano), em apenas mais um ciclo de ostentação e poder atenuado desde logo pelo cansaço e frustração da expectativa...
Aguardemos então, "Com´assim"...

Isabel Seixas disse...

"Aujourd'hui ils sont tous assis, mais demain pour quelques uns il n'aura pas de places..."

Tiro o chapéu e rendo-me satisfeita, que insight... Uau.

Há sempre "Places" no confessionário onde se podem ir Confessar
Em latim: "confessare" = Declarar o que se fez ou que se pensa; dizer os pecados ou erros a um confessor; declarar-se, reconhecer-se.

Anónimo disse...

Este blogue devia de ter um aviso: "É necessário saber Francês porque o autor não traduz citações".

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

O novo Presidente não começou bem o seu mandato, pois levou com um raio quando ia ao beija-mão à Senhora Merkel.

Também temos a certeza de que o Sr. Hollande quando começar a ver os dossiers a fundo vai perceber que não tem muito espaço de manobra, e claro depois vai aparecer com a desculpa que a situação era muito pior do que estava á espera, portanto não vai poder cumprir todas as promessas eleitorais !!! Enfim o mundo que temos

patricio branco disse...

a frança sabe organizar cerimónias e tem magnificos cenários para elas.
a expressão pompa e circunstancia aplica-se

patricio branco disse...

fazendo humor na sequencia do divertido comentario de jtmb, um raio tambem pode ser visto como um aviso de que não se deve ser tão apressado a viajar a deutschland a cumprimentar fraü kanzlerin.

Ps. uma palavra de pesar pelo falecimento do grande homem e escritor mexicano carlos fuentes

Julia Macias-Valet disse...

Nao estive la...mas vi tudinho pela TV : )

Claro que nem um segundo duvidei que o nosso embaixador la estaria para nos representar a todos nos.

A JTMN e PB : a primeira viagem do PR Francesa ao estrangeiro é sempre à Alemanha. Foi também assim com Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. Segundo sei tratasse de uma tradição (de paz ?) e nao de um beija-mao aos alemaes...mas provalmente estou enganada e sou naif.

Nao vos sei dizer se a 1a viagem de Mitterrand também foi à Alemanha...ainda nao estava em França e era ainda muito novinha para me interessar pela vida política de um pais que estaria longe de imaginar que um dia seria, também, o meu. : )

Mas hoje, tenho a certeza que é também o MEU !
Sobretudo desde ontem : )

Julia Macias-Valet disse...

Oups !

Trata-tracinho-se !

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