segunda-feira, abril 13, 2009

Auto-estrada

Uma longa "seca", ao final da tarde de ontem, numa auto-estrada que conduz a Paris, para além de me trazer à memória o belo conto de Julio Cortázar "Auto-estrada do Sul", dá-me ensejo para relatar uma historieta que ouvi, há dias, durante um jantar.

Era na Polinésia francesa, numa ilha cujo nome me escapou, mas que teria alguns quilómetros de auto-estrada. O meu conviva contou que conduzia a boa velocidade por essa via quando, de repente, começou a observar que os automóveis iam abrandando, até pararem mesmo no meio da própria auto-estrada. Surpreendido, até porque não havia nenhuma razão aparente para esse movimento colectivo, estacou também o seu carro e dirigiu-se ao condutor da viatura que seguia à sua frente, inquirindo sobre a razão de tão estranho procedimento. A resposta sintetiza toda a história: "Sabe, nós cá na ilha paramos sempre para ver o pôr-do-sol"!

domingo, abril 12, 2009

José David

Foto de Susana Paiva

Paris alberga pintores portugueses que o nosso país ganharia em conhecer melhor.

José David está entre eles e do seu trabalho se falará aqui no futuro.

Palma

Que tal começar a semana ouvindo "Encosta-te a mim", tema magnífico de um Jorge Palma mais recente?

Coincidências

No dia em que se ficou a saber que um guarda americano do campo de detenção de Guantánamo terá sido convertido ao islamismo pelos prisioneiros, o ex-presidente George W. Bush reuniu alguns dos seus antigos colaboradores com vista a começar a coordenar o trabalho de recuperação da memória histórica da sua Presidência.

sábado, abril 11, 2009

Mon Oncle

Num novo espaço de exposições, numa das saídas de Paris, foi reconstruída, para prazer de memória de muitos, nos quais me incluo, a famosa casa Arpel, que foi cenário de algumas das cenas mais hilariantes do filme "Mon Oncle", de Jacques Tati.

Servido por uma música que diversas gerações identificam com facilidade, este primeiro trabalho a cores de Jacques Tati, de 1958, constituiu, ao tempo, um grande êxito em Portugal.

Tati já tinha feito o genial "Jour de Fête" e o "Vacances de Monsieur Hulot". Ao "Mon Oncle" seguiu-se o "Playtime", onde o ridículo da modernidade voltou a ser o tema central.

A retrospectiva da sua obra, que a Cinémathèque française agora iniciou, foi o pretexto para esta reconstituição. Para quem, por acaso, possa não ter desistido de sonhar, rever os filmes de Tati é quase uma obrigação eterna.

Aventino Teixeira (1934-2009)

Aventino Teixeira, o militar de Abril que hoje faleceu, era uma figura algo atípica das Forças Armadas portuguesas. Homem de convicções democráticas, aparecia para conversas nada ortodoxas, em 1973, em algumas noites na Escola Prática de Administração Militar, onde nos aligeirava o tédio dos serviços. No pós-25 de Abril, Aventino tornou-se uma figura de algum relevo na manobra política portuguesa, articulando polémicos contactos entre os maoístas do MRPP e o "Movimento dos Nove", o sector moderado do MFA que então contestava a deriva radical da Revolução. Navegador da noite lisboeta, teve, durante alguns anos, pouso regular no Procópio. Com outros, como o autor deste blogue, ajudou a escrever o livro que recolhe a memória dessa "catedral" do convívio e cuja imagem, à falta de uma foto de Aventino Teixeira, aqui fica como sua última recordação. 

Lobo Antunes

Meia página no último Le Figaro Littéraire, com foto em destaque na primeira página, dá bem conta da importância que António Lobo Antunes tem em França e do modo como a sua escrita aqui é apreciada.

Desta vez, o pretexto foi a apresentação de "Livre de Chroniques IV", tradução francesa da recolha de textos publicados na Visão, agora editada pela Christian Bourgois Éditeur.

sexta-feira, abril 10, 2009

Pomar

Foi uma excelente exposição aquela que Júlio Pomar apresentou ontem na Galerie Trigano, em Paris.

24 horas depois de ter mostrado um seu trabalho em objectos, lado a lado com Joana Vasconcelos, no Centro Cultural da Gulbenkian, foi um outro Pomar que pudemos ver em óleos marcados por um tema recorrente do seu imaginário, a que deu o nome de "Nouvelles aventures de Dom Quichotte et trois (4) Tristes Tigres".

Democracia

Na Assembleia Nacional francesa existe uma confortável maioria favorável ao presidente Sarkozy, o que facilita a adopção da diversa legislação no sentido daquilo que o Governo pretende. Ontem, porém, a maioria foi derrotada numa votação sobre o carregamento de conteúdos informáticos.

Quando o debate sobre o tema se concluiu, o Governo deu-se conta de que, na sala, estavam 16 deputados da maioria e que, pela oposição, havia apenas 8 presentes. Margem confortável, portanto. Desconfiados de tanta facilidade, até por observarem frenéticas trocas de SMS por parte dos adversários na sala, alguns responsáveis governamentais deram uma volta pelo edifício, não fosse dar-se o caso de haver oposicionistas escondidos nos gabinetes mais próximos ou na biblioteca. Mas não, num raio confortável de movimentação, nenhum deputado da oposição estava à vista. E, assim, foram dadas instruções ao grupo parlamentar para solicitar a votação imediata do diploma.

Logo que foi anunciado o voto, pelo sistema de braço no ar, o que aconteceu? Saíram detrás das pesadas cortinas vermelhas que decoram um dos lados da Assembleia, onde ninguém se tinha lembrado de procurar, dez sorridentes deputados da oposição. E a proposta do Governo foi rejeitada, com gáudio para uns, para irritação óbvia de outros.

A democracia também se faz de truques.

Notícias de Guerra

Felizes os que vivem em Lisboa e podem dar-se ao luxo de estar no lançamento dos livros dos amigos. Pobres os expatriados, como o autor deste blogue, que não têm o privilégio de poderem partilhar, quando esses mesmos amigos "cometem um livro", a alegria do seu parto editorial.

Aqui vai o retrato: João Paulo Guerra, homem inteiro, voz ímpar da melhor rádio portuguesa, jornalista "engajado" e autor de bela escrita política, sempre polémico, impertinente e afirmativo, jornalista de garra e de muitas guerras, algumas de polémico registo diário, contador gastronómico (infelizmente) inconstante. Com ele coincido muitas vezes, dele divirjo outras tantas (vá lá, muitas menos!), mas encontramo-nos à mesa comum da ironia e do convívio, sempre, sempre do mesmo lado da vida, claro.

Para gáudio dos seus amigos e forte angústia de alguns que o não são, João Paulo Guerra encaderna agora a sua "Coluna Vertebral", surgida na última década no Diário Económico e que tanta urticária política continua a provocar. Julgavam que esses textos tinham desaparecido na voragem perecível do jornal? Enganaram-se! E o prefácio é de outro escritor de bela cepa e sem papas na língua: Baptista-Bastos. Por isso, apertem os cintos!

Um forte abraço, João.

quinta-feira, abril 09, 2009

La Lys

Foi a 9 de Abril de 1918 que se iniciou a batalha de La Lys, durante a qual as tropas portuguesas, entradas tardiamente na 1ª Guerra Mundial, viriam a sofrer uma pesada derrota face ao muito melhor equipado exército alemão.

Este ano, a homenagem que é devida aos nossos soldados, entre os quais figuram alguns destacados heróis, terá lugar numa cerimónia a realizar no dia 18 de Abril, durante a qual a Embaixada portuguesa em França fará uma romagem ao cemitério português de Richebourg.

As Ruas de Mísia

Foi um espectáculo singular aquele que Mísia apresentou ontem à noite no Casino de Paris. Uma sala cheia, com muitos portugueses mas não só, teve oportunidade de seguir um percurso desenhado pela cantora, desde o fado mais ou menos (como ela gosta) convencional até um repertório internacional muito cuidado, com uma musicalidade que alia a viola eléctrica à guitarra. Este espectáculo corresponde ao seu mais recente disco, "Ruas".

Mísia é um caso à parte na música portuguesa. Culta, muito rigorosa nos poetas que escolhe, tem um estilo que pode afastar alguns puristas, mas que agrada a um público fiel. Embora tenha vários dos seus discos, era a primeira vez que ouvia Mísia ao vivo e, por essa razão, estava curioso de ver a reacção da plateia. Que foi muito positiva.

O fado anda por França com uma força que me parece bem maior do que a que tem em Portugal. Desde que cheguei a Paris, por aqui passaram, entre vários outros intérpretes, Kátia Guerreiro, Ana Moura, Mafalda Arnauth e Mísia. Que venham mais!

Páscoa

Os tempos são definitivamente outros. Em Portugal, nos anos 60 do século passado, as rádios deixavam de emitir às 3 da tarde de 5ª feira Santa e só voltavam a emitir no Sábado de manhã, depois da Aleluia, assinalada pelos sinos das igrejas, de manhã. Lembram-se os desse tempo?

Este post serve apenas para mostrar como meio século mudou imenso o comportamento dos portugueses face às datas religiosas.

quarta-feira, abril 08, 2009

"À la mode de chez nous"

Há cerca de um ano, Júlio Pomar descobriu o trabalho de Joana Vasconcelos na Pinacoteca de S. Paulo, onde tinha ido apresentar uma retrospectiva da sua própria obra, a cuja inauguração, por casualidade, eu próprio tive o gosto de estar presente, como embaixador no Brasil. Desse encontro nasceu a ideia da exposição conjunta que ontem abriu no Centro Cultural da Fundação Gulbenkian, aqui em Paris, sob o título bem significativo de "À la mode de chez nous".

À imensa criatividade de Joana Vasconcelos, baseada na ligação insólita de elementos tradicionais portugueses a objectos que, à partida, lhes seriam bem alheios, a exposição alia magníficos trabalhos de Júlio Pomar, em torno da recriação, também em termos marcados pelo insólito, de elementos da cerâmica tradicional de Bordalo Pinheiro.

O resultado é surpreendente e o modo entusiástico como o público ontem acorreu à avenue de Iéna revelou que a aposta de Rui Vilar e de João Pedro Garcia foi mais do que ganha.

A Gulbenkian irá, dentro de alguns meses, mudar de morada em Paris, abandonando o palacete em que habitou Calouste Gulbenkian para uma zona tida como mais prática para o público. Eu, confesso, começava a achar graça às actuais instalações.

Em tempo: leiam a reportagem de Daniel Ribeiro no site do Expresso.

Porto

Já aqui foi dito: o Futebol Clube do Porto é, nos dias de hoje, a grande face de prestígio do futebol português à escala internacional. E criou hipóteses de ver mais longe no seu caminho na Champions.

Mas muita atenção! Apesar do excelente resultado obtido pelo Porto em Old Trafford, o Manchester United é sempre capaz de grandes surpresas.

terça-feira, abril 07, 2009

Bilboquet

Em 1966*, os Sheiks, agrupamento musical português que à época fazia furor, desembarcaram no Bilboquet, em Paris, onde, durante algum tempo, se apresentaram ao público francês. Recordo-me das reportagens na "Plateia", lidas, entre nós, com alguma inveja, pelo que presumíamos serem as delícias da noite parisiense. A julgar pela imagem de hoje, a noite continua divertida por lá.

O Bilboquet permanece na rua Saint-Benoît, em Saint-Germain-des-Prés. Fundado em 1947 por Boris Vian (é verdade!), diz o Google que por ela passaram nomes como Duke Ellington, Charlie Parker, Sidney Bechet e Miles Davis.

Os Sheiks desapareceram, embora reapareçam em "remakes" pontuais. Para os saudosos, aqui fica o seu "Missing You", no que não tenho a certeza seja a versão original.

* Data corrigida por Luis Pinheiro de Almeida

Palmas

Deve ser embirração minha, mas confesso que não consigo perceber o hábito, muito português (embora não exclusivo), de bater palmas após a aterragem dos aviões. No passado, quando as portas da cabine de pilotagem se mantinham obrigatoriamente abertas na aproximação ao solo, o som de júbilo dos passageiros ainda chegava ao comandante. Agora, nem isso.

Será que bater palmas à chegada é uma forma de exorcizar o medo sentido na viagem?

segunda-feira, abril 06, 2009

Tu

A prática diplomática faz com que, na maioria dos casos, os embaixadores, num determinado posto, se tratem entre si por "tu". Nos países de língua inglesa, ou quando o inglês é a língua de comunicação, o problema nem se coloca, porque o "you" dá para tudo. Porém, no caso do francês, alguém tem de propor a passagem ao "tu" - ou, pura e simplesmente, começar logo a usar o "tu", sem formalidade.

Hoje, quando um colega me propôs, no fim de um almoço, que nos passássemos a tratar por "tu", não pude deixar de lembrar-me numa historieta célebre de François Mitterrand.

Um conhecido seu estava inseguro sobre se tratava ou não por "tu" o presidente francês e, por isso, ousou perguntar-lhe: "François, est-ce qu'on se tutoie?". Distante como era, Mitterrand respondeu-lhe: "Si vous voulez..."

domingo, abril 05, 2009

Universidade

Historicamente, há duas cidades de Vila Real. Antes e depois da criação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

O impulso para a criação daquilo que viria a ser a UTAD foi dado por muitos quadros universitários chegados de África, no rescaldo da descolonização. Foi um trabalho paciente e longo, de gestação de uma massa crítica de prestígio académico, hoje plenamente reconhecido nos vários sectores especializados, portugueses e estrangeiros.

A cidade mudou muito com a UTAD, numa dinamização da sua vida que afectou positivamente a economia, contribuiu para a fixação de pessoas e para a criação de muitos postos de trabalho. Como observador exterior, fico com a sensação - porventura errada - de que essa "mistura" da universidade com a cidade ficou sempre, contudo, aquém do que seria desejável, em especial na indução de uma cultura de modernidade que só muito lentamente Vila Real tem vindo a ganhar. Concedo que essa possa ser uma visão distorcida e de pendor voluntarista, de quem gostaria de ver a sua terra dotada de uma outra expressão à escala nacional.

Ontem à tarde, acedendo a um convite que muito me orgulha, tomei posse como membro do Conselho Geral da UTAD. Espero que essas funções me qualifiquem a poder ser mais activo na defesa dos interesses comuns à universidade e a Vila Real.

sábado, abril 04, 2009

Nanterre

Nanterre traz, para muitos da minha geração, a imagem da revolta de Maio de 1968. Por essas bandas houve então lutas épicas, iniciadas na universidade e prolongadas nas fábricas, em tempos de uma revolução que acabou com mais mudanças nas mentalidades do que nas coisas concretas da vida. Mas da qual, para o mal e para o bem, a História da França e do mundo se não liberta.

Ontem, inaugurei no Espace Chevreul, em Nanterre, a Feira de Produtos Portugueses, promovida pela ARCOP (Associação Recreativa e Cultural dos Originários de Portugal), uma magnífica iniciativa organizada em 30 stands, com a presença orgulhosa de vários autarcas das nossas regiões, especialmente do Minho e de Trás-os-Montes, mas também da Beira e do Alentejo. Jaime Alves está no centro desta realização, com o seu filho Marco, autarca de Nanterre, a demonstrar a força da nossa integração em França.

Da Nanterre vermelha, de há mais de 40 anos, resta a cor política do nosso simpático anfitrião, o Maire de Nanterre, Patrick Jarry, eleito pelo Parti Communiste Français. Ele tinha então apenas 14 anos...

Fora da História

Seria melhor um governo constituído por alguns nomes que foram aventados nos últimos dias mas que, afinal, acabaram por não integrar as esco...